Talvez seja correto afirmar
que hoje os cidadãos de Ghotam City se sentem seguros. Noite após noite, vigilante
sombrio conhecido como Batman sai em busca de Justiça combatendo ladrões, assaltantes,
seqüestradores e o pior que a sociedade pode oferecer. Muitos se perguntam o que seria das
pessoas de bem, das famílias, se o Cavaleiro das Trevas não tirasse os marginalizados
do caminho?
Todos
conhecemos a origem do super herói, sua trajetória, mas alguma vez já paramos
pra nos perguntar sobre o outro lado? De onde vêm os marginais? Sua história?
No
Manifesto do partido comunista, Marx justifica a pobreza ao afirmar
O produtor tornou-se um apêndice
da maquina, e só requer dele a operação mais simples e mais fácil de aprender.
Desse modo, o custo da produção de um operário se reduz, quase completamente,
aos meios de subsistência que ele necessita para perpetuar a raça¹.
Aparentemente,
a burguesia, a exploração capitalista é quem dá origem às camadas mais pobres. Ainda
segundo Marx, os operários são “escravos da máquina, do contramestre e,
sobretudo, do próprio dono da fábrica. Esse despotismo é tanto mais mesquinho,
mais odioso e mais exasperador quanto maior a franqueza com que proclame ter no
lucro seu objetivo e seu fim”².
Acredita-se que a exploração capitalista muitas vezes lança o sujeito à miséria, levando-o a aderir ao crime como meio de subsistência.
Acredita-se que a exploração capitalista muitas vezes lança o sujeito à miséria, levando-o a aderir ao crime como meio de subsistência.
Ao
buscar o nome das maiores empresas de Ghotam, nota-se no topo da lista as
Industrias Wayne de Bruce Wayne. É a partir desse ponto que notamos essa quase
invisível contradição, pois se Bruce Wayne é o Batman, podemos afirmar que o
Batman é o dono da maior empresa capitalista de Ghotam City.
Em outras palavras, podemos sugerir que todas as noites o Cavaleiro das Trevas veste seu uniforme a fim de combater os vilões criados por ele mesmo.
Em outras palavras, podemos sugerir que todas as noites o Cavaleiro das Trevas veste seu uniforme a fim de combater os vilões criados por ele mesmo.
As Indústrias
Wayne podem ser o princípio e o fim da marginalização em Ghotam! Os tantos
dólares que Bruce investe no Batmóvel, planadores e na manutenção de seu traje
de combatente vem do suor e da mais valia de seus operários. Dólares que podiam
ser investidos na educação ou na saúde.
O
Marxista Britânico Thompson afirmava que a esmola que o burguês muitas vezes
doa ao pobre não é símbolo de compaixão e sim de medo. Trata-se de uma espécie
de controle social, uma forma de evitar que o pobre se revolte. Ou seja, é um
momento em que o pobre tem o controle da situação e, de certa forma, o burguês
se vê obrigado a doar. Segundo ele “O pedinte ou pobre pode visar a extrair dos
ricos tudo que é possível; eles sabem que a recusa da dádiva provoca a culpa em
quem a nega e que esta é terreno fértil para semear ligeiras insinuações de
represálias físicas ou mágicas”³.
Enquanto em nossa cidade, o burguês
oferece cestas básicas ou a ajuda de um manobrista no estacionamento, em Ghotam
o burguês se veste de morcego e diz oferecer segurança a população.
Segurança
essa, causada por um mal que ele mesmo constrói e maquia graças à alienação.
Para encerrar, uma reles expressão clichê, mas, que faz todo sentido nessa
reflexão: Nem sempre as coisas são o que parecem ser.
¹MARX, Karl. Manifesto do Partido Comunista. 1ª parte (p. 99-100)
²MARX, Karl. Idem. (p. 100)
²MARX, Karl. Idem. (p. 100)
³THOMPSON, Edward. Folclore, Antropologia e História Social. In. As Peculiaridades dos Ingleses. E outros artigos. Ed. UNICAMP, 2001. (p. 26)