quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Inimigo no Espelho


Talvez seja correto afirmar que hoje os cidadãos de Ghotam City se sentem seguros. Noite após noite, vigilante sombrio conhecido como Batman sai em busca de Justiça combatendo ladrões, assaltantes, seqüestradores e o pior que a sociedade pode oferecer.                                                                                                                                 Muitos se perguntam o que seria das pessoas de bem, das famílias, se o Cavaleiro das Trevas não tirasse os marginalizados do caminho?                                                 
Todos conhecemos a origem do super herói, sua trajetória, mas alguma vez já paramos pra nos perguntar sobre o outro lado? De onde vêm os marginais? Sua história?                  
No Manifesto do partido comunista, Marx justifica a pobreza ao afirmar
O produtor tornou-se um apêndice da maquina, e só requer dele a operação mais simples e mais fácil de aprender. Desse modo, o custo da produção de um operário se reduz, quase completamente, aos meios de subsistência que ele necessita para perpetuar a raça¹.
            Aparentemente, a burguesia, a exploração capitalista é quem dá origem às camadas mais pobres. Ainda segundo Marx, os operários são “escravos da máquina, do contramestre e, sobretudo, do próprio dono da fábrica. Esse despotismo é tanto mais mesquinho, mais odioso e mais exasperador quanto maior a franqueza com que proclame ter no lucro seu objetivo e seu fim”².                                                 
             Acredita-se que a exploração capitalista muitas vezes lança o sujeito à miséria, levando-o a aderir ao crime como meio de subsistência.                                                              
           Ao buscar o nome das maiores empresas de Ghotam, nota-se no topo da lista as Industrias Wayne de Bruce Wayne. É a partir desse ponto que notamos essa quase invisível contradição, pois se Bruce Wayne é o Batman, podemos afirmar que o Batman é o dono da maior empresa capitalista de Ghotam City.
Em outras palavras, podemos sugerir que todas as noites o Cavaleiro das Trevas veste seu uniforme a fim de combater os vilões criados por ele mesmo.                                 
        As Indústrias Wayne podem ser o princípio e o fim da marginalização em Ghotam! Os tantos dólares que Bruce investe no Batmóvel, planadores e na manutenção de seu traje de combatente vem do suor e da mais valia de seus operários. Dólares que podiam ser investidos na educação ou na saúde.            
        O Marxista Britânico Thompson afirmava que a esmola que o burguês muitas vezes doa ao pobre não é símbolo de compaixão e sim de medo. Trata-se de uma espécie de controle social, uma forma de evitar que o pobre se revolte. Ou seja, é um momento em que o pobre tem o controle da situação e, de certa forma, o burguês se vê obrigado a doar. Segundo ele “O pedinte ou pobre pode visar a extrair dos ricos tudo que é possível; eles sabem que a recusa da dádiva provoca a culpa em quem a nega e que esta é terreno fértil para semear ligeiras insinuações de represálias físicas ou mágicas”³.                                                           
        Enquanto em nossa cidade, o burguês oferece cestas básicas ou a ajuda de um manobrista no estacionamento, em Ghotam o burguês se veste de morcego e diz oferecer segurança a população.
        Segurança essa, causada por um mal que ele mesmo constrói e maquia graças à alienação. Para encerrar, uma reles expressão clichê, mas, que faz todo sentido nessa reflexão: Nem sempre as coisas são o que parecem ser.



¹MARX, Karl. Manifesto do Partido Comunista. 1ª parte (p. 99-100)
²MARX, Karl. Idem. (p. 100)
³THOMPSON, Edward. Folclore, Antropologia e História Social. In. As Peculiaridades dos Ingleses. E outros artigos. Ed. UNICAMP, 2001. (p. 26)